Riding Solo To The Top Of The World (DVD)

Este é talvez o filme/documentário de viagem de moto de que mais gostei e que mais me inspirou.

Trata-se da história de uma viagem ao norte da India, pelas estradas mais altas do mundo, na região do Ladakh, junto à fronteira chinesa. No Changthang plateau, às mais elevadas altitudes habitadas, vive um povo nómada chamado Chang Pas, que é demoradamente (e com grande sensibilidade) documentado no filme.

O único viajante é Gaurav Jani, um indiano que se auto intitula film maker independente, que monta uma Royal Einfield com suspensões de série e pneus normais e carregada com um peso descomunal.

O que mais me impressionou de entrada no filme foi o facto de a viagem ter sido feita e sobretudo filmada a solo. A fotografia é soberba, as paisagens incríveis sucedem-se, tudo ajudado por perspectivas de captação de imagens surpreendentes. Viajando sozinho, em alguns takes, ele precisa de se deslocar distâncias consideráveis (e várias vezes) para colocar a câmara de filmar nos locais que dão o maior dramatismo/realismo às cenas.

Depois, supreendeu-me a forma como o documentário (desde a captação de imagens à edição) conseguiu captar a poesia das paisagens, do modo de vida dos Chang Pas - em cuja companhia ele passou bastante tempo - da aventura motociclística em que ele embarcou.

O resultado final, que podem ver no DVD, é uma muito bem conseguida mistura de aventura motociclística em locais raramente filmados e muito belos, etnografia (a sua estadia entre os Chang Pas), belíssima fotografia e até uma demonstração de fé (uma fabulosa sequência de fervor religioso pela chuva, rara por aquelas paragens). Durante a viagem consegue ainda, ao que se sabe pela primeira vez, filmar o remoto mosteiro de Chumur, numa arriscada passagem - um local cujo acesso havia sido negado a uma equipa da National Geographic.

É difícil não simpatizar rapidamente com o Gaurav Jani e com a sua forma de viajar. Ele tem uma alma de poeta e no filme transparece a sua simplicidade, humildade e despretenciosismo, apesar de ter feito um "trabalho" de qualidade impressionante, que foi premiado várias vezes em festivais de produtores independentes. É também membro fundador de um clube motociclista indiano que se dedica a viagens, com uma filosofia que pessoalmente a mim me diz muito. O clube chama-se 60kph e podem visitá-lo aqui (com vários relatos de viagens, sobretudo na India): http://www.60kph.com/ .

Uma última palavra sobre o preço do DVD: é excelente, dos mais baratos que já paguei e que já inclui portes de envio directamente da India (envio rápido, demora uma semana).

O link do produtor: http://dirttrackproductions.com/

O link para informações sobre o filme e para um trailer: http://dirttrackproductions.com/ridingsolo.html

O link para reviews no 'site' oficial: http://dirttrackproductions.com/reviews.php

O link para uma review externa do filme: http://www.bikernet.com/news/PageViewer.asp?PageID=1566

Zé Paulo.

TodayAdventure escreveu:

O que mais me impressionou de entrada no filme foi o facto de a viagem ter sido feita e sobretudo filmada a solo. A fotografia é soberba, as paisagens incríveis sucedem-se, tudo ajudado por perspectivas de captação de imagens surpreendentes. Viajando sozinho, em alguns takes, ele precisa de se deslocar distâncias consideráveis (e várias vezes) para colocar a câmara de filmar nos locais que dão o maior dramatismo/realismo às cenas.

Zé Paulo.

Isto sem falar na possibilidade de chegar ao ponto onde deixou a máquina para fazer o melhor take e estar lá apenas o sítio

Zé Paulo,

Encomendas-te o DVD em rupias???
Ou utilizaste dolares?

Este DVD deixou-me bastante curioso...
Talvez mais tarde o encomende...

Abraço,

João Almeida

João Almeida escreveu:Zé Paulo,

Encomendas-te o DVD em rupias???
Ou utilizaste dolares?

Este DVD deixou-me bastante curioso...
Talvez mais tarde o encomende...

Paguei no PayPal... creio que em dólares... mas o equivalente a 15 euros (com portes já incluidos). Uns momentos de sonhos como poucos são capazes de proporcionar pelo preço de um jantareco...

Zé Paulo.

Viva!

Junto-me ao Zé Paulo. Foi de facto o melhor e mais espectacular filme de mototurismo que vi.

Eu acrescentaria ao que o Zé Paulo já disse que o Gaurav circulou a maior parte do tempo sem equipamento. Julgo que andar de calças de ganga e um casaco de penas seria um luxo para ele. Depois, circular acima de 4000 metros, com dificuldades de respiração, sempre com o problema de não encontrar gasolina. E a comida sempre numa modalidade de subsistência, tal como o sono.

O Gaurav deve ter hibernado uns 2 meses para recuperar da viagem, pois a altura a que circulou e as condições (tenda), associado ao clima frio, húmido, por vezes gélido, não lhe trouxeram qualquer conforto. Há uma altura em que ele consegue dormir numa cama, dentro de um casebre e diz que foi a melhor noite da viagem toda.

Portanto, o que ele fez, eu certamente não o faria, pois precisaria de uma enorme dose de coragem e espírito de sacrifício.

Fabuloso.

Pedro Gordo
leiria

pedrogordo escreveu:
Eu acrescentaria ao que o Zé Paulo já disse que o Gaurav circulou a maior parte do tempo sem equipamento. Julgo que andar de calças de ganga e um casaco de penas seria um luxo para ele. Depois, circular acima de 4000 metros, com dificuldades de respiração, sempre com o problema de não encontrar gasolina. E a comida sempre numa modalidade de subsistência, tal como o sono.

O Gaurav deve ter hibernado uns 2 meses para recuperar da viagem, pois a altura a que circulou e as condições (tenda), associado ao clima frio, húmido, por vezes gélido, não lhe trouxeram qualquer conforto. Há uma altura em que ele consegue dormir numa cama, dentro de um casebre e diz que foi a melhor noite da viagem toda.

Portanto, o que ele fez, eu certamente não o faria, pois precisaria de uma enorme dose de coragem e espírito de sacrifício.

Creio que se exagera na importância do equipamento e de todo "circo comercial" em volta das motos. Esse "circo" é forte na Europa, nos Estados Unidos, enfim, os países onde as pessoas tradicionalmente têm dinheiro para gastar nestas coisas e há mercado e apetência para se comprar estas coisas. Também é inegável que um bom equipamento oferece um extra de segurança e de conforto.

Mas ponhamo-nos num contexto diferente, o de um país muito mais pobre, onde se viaja com muito menos dinheiro, onde quase todas as viagens são "de aventura", onde não há mercado (nem dinheiro) para estas coisas. Tenho a certeza que o Gaurav foi praticamente tão bem defendido do frio como se vai com um equipamento XPTO, embora às altitudes que ele viajou, da forma como ele viajou (numa tenda baratucha) seja difícil evitar algum desconforto em condições tão extremas, vá-se como se for vestido.

Acho também que um menor conforto que se possa experimentar é largamente ultrapasado pelas experiências excepcionais que se podem ter, como o resultado final deste documentário prova, de certo modo. Se forem a advrider.com ou a foruns indianos lr relatos de viagens na India, verão os "equipamentos típicos" dos viajantes!...

Comecei a viajar na Europa no final dos anos 80. Nestes tempos, não havia "grandes equipamentos". Usava-se o cabedal, às vezes reforçado e era tudo. Viajava-se um pouco menos seguro, sim, mas não menos feliz (às vezes, pelo contrário). Nas últimas viagens na Europa não voltei a sentir a sensação de estar a viver uma aventura como noutros tempos. Bom, vou eu à procura da aventura para outro lado.

Finalmente, aventuras destas como o Gaurav viveu, para além de resultarem num documentário muitíssimo bem feito, são um hino à poesia (perdida, em muitos casos) das viagens de moto. Em suma, o que eu quero dizer é: ataquem as viagens dos vossos sonhos, quer tenham ou não a "última palavra" em equipamento.

Zé Paulo.

Dou-te toda a razão, Zé paulo.
Em relação ao equipamento ainda me lembro de utilizar, nesses anos 80, os blusões e as calças/jardineiras da Refrigewear como alternativa ao cabedal, em viagens mais longas pela Europa.
Mas o mais importante é ir. Juntar os "trapinhos" e partir por essa estrada fora...